Alunos com Baixa Visão: um desafio para os educadores.
Elizabet Dias de Sá(*).
Henrique tem 13 anos, escreve com letras grandes e em caixa alta, não
identifica acentos e sinais de pontuação em um texto. Ele coloca o livro
e o caderno bem perto do rosto, tem percepção de cores e de detalhes em
figuras ou desenhos simples. Apesar de usar óculos e telescópio tem
dificuldade para enxergar letras e ilustrações dos livros e para copiar o
conteúdo do quadro-negro. É um aluno afável, gosta de "games" e evita
lugares sombrios para brincar e realizar as tarefas escolares.
Fabiana tem 09 anos, lê e escreve com dificuldade, e, ao colorir,
ultrapassa os contornos do desenho. Apresenta uma escrita desorganizada,
letras irregulares, levanta da carteira e vira a cabeça ou o caderno
para enxergar o que está escrito. Na entrada da escola e na hora do
recreio, não consegue achar a fila de sua turma necessitando de ajuda.
Parece ficar perdida e hesitante, fecha os olhos com freqüência,
principalmente se a claridade for intensa. Ela é arredia, fala pouco e
dificilmente interage com a professora e os colegas.
Rafael tem 10 anos, participa das atividades de educação física e do
recreio, mas em sala de aula não demonstra interesse pelas atividades de
escrita. Ele não conhece as letras do alfabeto e não identifica o seu
nome. Sempre que seus objetos escolares caem no chão, usa o tato para
procurá-los. Ele vai sozinho para a escola e solta pipa na rua.
Henrique, Fabiana e Rafael estudam em escolas diferentes da rede
municipal de ensino de Belo Horizonte, e têm necessidades semelhantes,
decorrentes da baixa visão, causada por alterações de funções visuais,
que dificultam a recepção e o reconhecimento de estímulos, interferem ou
limitam a execução de tarefas rotineiras e o desempenho escolar. A
condição visual destes alunos nem sempre é compreendida pelos
profissionais das escolas que tendem a considerar as atitudes e o
comportamento deles como falta de interesse, preguiça, distração ou
dificuldade de aprendizagem. Isso porque é difícil para os educadores e
mesmo para a família compreender a oscilação visual que consiste na
possibilidade de enxergar com mais nitidez, ou menos, de acordo com as
circunstâncias exteriores ou o estado emocional do sujeito.
A funcionalidade ou eficiência da visão é definida em termos da
qualidade e do aproveitamento do potencial visual de acordo com os
aspectos de natureza orgânica, as condições de estimulação, de ativação
das funções visuais, da mediação e orientação adequadas. Esta
peculiaridade explica o fato de Henrique, Fabiana e Rafael apresentarem
níveis diferenciados de desempenho visual no que diz respeito à
desenvoltura e segurança para a realização de tarefas, locomoção e
percepção de estímulos ou obstáculos. Por isto, é necessário observar e
entender o movimento dos alunos em direção ao estímulo visual, o que
fazem para enxergar e como enxergam.
Alguns sinais e comportamentos indicadores de baixa visão podem ser
identificados em sala de aula: aparência dos olhos, tremor da pupila,
andar hesitante, sentido de direção e localização de objetos etc. O
aluno esfrega os olhos; franze a testa; fecha e tampa um dos olhos;
balança a cabeça ou a inclina para a frente para ver um objeto próximo
ou distante; levanta para ler o conteúdo escrito no quadro negro, em
cartazes ou mapas; troca palavras, omite ou mistura letras e sílabas;
evita ou protela atividades predominantemente visuais; pisca muito,
chora com freqüência, tem dor de cabeça ou fica irritado devido ao
esforço despendido na realização da tarefa; tropeça com facilidade ou
não consegue se desviar de objetos e de pequenos obstáculos; aproxima o
livro, o caderno e outros materiais para perto dos olhos; sente incômodo
ou intolerância à claridade; troca a posição do livro e perde a
seqüência das linhas em uma página ou confunde letras semelhantes; tem
dificuldade em participar de jogos e brincadeiras que exijam visão de
distância.
A baixa visão é caracterizada pela impossibilidade de ver à distância
devido a alterações decorrentes de lesões ou outras afecções na retina,
no nervo óptico ou no campo visual mesmo após intervenção cirúrgica ou
tratamento. Em muitos casos, há uma perda progressiva e irreversível da
visão cujo processo pode ser lento e provocar efeitos emocionais e
outros impactos em todas as esferas de vida do sujeito.
A baixa visão manifesta-se de forma peculiar em cada um dos indivíduos
afetados porque são muitos os aspectos que interferem no modo de ver e
na maneira como os objetos e estímulos do ambiente são percebidos ou
reconhecidos. Alguns alunos fazem uso de recursos ópticos mediante
prescrição oftalmológica, enquanto outros necessitam basicamente de
recursos não ópticos.
O trabalho com alunos com baixa visão baseia-se no princípio de
estimular a utilização plena do potencial de visão e dos sentidos
remanescentes, bem como na superação de dificuldades e conflitos
emocionais. Estes alunos devem aprender a perceber visualmente as
coisas, as pessoas e os estímulos do ambiente. Para isto, os educadores
devem despertar o interesse dos alunos e estimular o comportamento
exploratório por meio de atividades orientadas e adequadamente
organizadas a partir de critérios que contemplem as necessidades
individuais e específicas destes alunos.
Recomendações Úteis.
O aluno deve ficar sentado no centro da sala de aula, a uma distância de
aproximadamente um metro do quadro negro; a carteira deve ficar em uma
posição que evita a incidência de reflexo de luz no quadro, a claridade
diretamente nos olhos do aluno e jogo de sombras sobre o caderno; o uso
constante de óculos deve ser incentivado, quando houver prescrição
médica; a seleção, a confecção ou adaptação de material devem ser
planejadas e elaboradas de acordo com a condição visual do aluno; a
necessidade de tempo adicional para a realização das tarefas deve ser
observada; o material escrito e as ilustrações visuais devem ser
testados com a intenção de assegurar que podem ser percebidos pelo
aluno; as posições do aluno e da carteira devem ser modificadas, sempre
que necessário, sobretudo no caso de fotofobia; o excesso de luz deve
ser controlado ou evitado em sala de aula; uso de cortinas ou papel
fosco para não refletir a claridade; as tarefas propostas devem ser
explicadas verbalmente de modo claro e objetivo.
(*) Elizabet Dias de Sá.
Psicóloga e Educadora.
Gerente de Coordenação do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual - CAP/BH.
elizabetds@gmail.com.
www.bancodeescola.com.
Psicóloga e Educadora.
Gerente de Coordenação do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual - CAP/BH.
elizabetds@gmail.com.
www.bancodeescola.com.
Fonte: SÁ, E. D. Alunos com baixa visão: um desafio para os educadores. Revista Aprendizagem. , v.8, p.48 - 49, 2008.